05 outubro 2011

Mutila-me

Anda, destrona-me, humilha-me, quebra-me, bate-me, morde-me, come-me as entranhas e deixa à mostra os órgãos para que todos os vejam.
Assina o teu nome na minha pele. Assim, eu mostro-te: cortas e espetas na carne, depois vais desenhando com cuidado as letras do teu nome até que se vejam bem os golpes e a tua identidade orgulhosa do feito.
Anda, mostra-me do que és capaz.
Pisa-me o ventre com força, espeta os teus dedos nos meus olhos. Cega-me, deixa que não veja, mostra alguma misericordia, sê um monstro gentil, com hábitos antigos de ternura.
Isso, sim. Sussurra-me ao ouvido em dialeto de milénios a grande cabra que eu sou. Insulta-me, faz-me chorar.
Não te surpreenderia que pedisse por mais, pois não?
Abomina-me e pontapeia-me. Grita-me e pergunta muitas vezes porquê.
Agora sim, estamos a chegar lá, repete o meu nome até que ele não faça sentido, esquece-te de mim, e de ti.
Maltrata-me até que o meu rosto te seja irreconhecível. Pendura-me numa àrvore enquanto ainda estou viva, e dança sob a chuva quente do meu sangue.
Ainda assim desiludes-me. Continuas a perguntar porquê e sabes a resposta. Anda, não sejas ingénuo, sabes bem que fui eu quem criou o monstro em que te tornaste.
Irrita-te. Revolta-te. Destrói tudo até que se vejam as emoções, até que o que sentimos seja palpavel.

Sim, só agora, meu amor, me vais ouvir dizer que te amo.

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