22 março 2012

Até que a morte nos separe

Eduardo, tenho uma coisa para te dizer. Eu gosto de ti.
Há alturas em que nem quero saber que tenhas mulher e filhos e sinto-me suja. Sinto-me suja quando saio daquele cubiculo onde nos encontramos às escondidas. Sinto-me suja naqueles lençóis, sinto-me suja por sentir tanto prazer quando me tocas, sinto-me suja quando olhas tão fundo nos meus olhos, sinto-me suja quando respiras junto ao meu ouvido.
Mas não é isto que tenho para te dizer, isto já tu sabes. Já to disse, silaba por silaba, entre lágrimas e soluços.
Tu devias ter casado comigo. Era a mim que devias ter prometido amar e respeitar, na riqueza e na pobreza, na saude e na doença até que a morte nos separasse. Devias ter-mo dito e prometido a mim porque seria uma mentira, porque claro que não nos íamos amar e respeitar até que a morte nos separasse, não seria precisa a morte porque tu te irias, eventualmente, fartar dos meus cabelos desgrenhados pela manhã, e eu me iria fartar das tuas meias enroladas ao fundo do colchão.
É por isto que comigo é que te devias ter casado. Que comigo é que devias discutir por coisas sem importância nenhuma, que se discutem porque tem que ser, porque estaríamos tão cansados já, tão fartos já, tão desapaixonados já, que a única coisa que teriamos para dizer um ao outro eram essas palavras ridiculas em discussões idiotas por coisas sem importância nenhuma.
Assim, desta forma, como somos e existimos, estou condenada a ficar contigo até que a morte nos separe.
Tenho de ti o teu melhor. Os teus sorrisos, as tuas ternuras, o sexo, a urgência em me tocares, as tuas mãos nas minhas, o teu corpo no meu, inteiro. Não vejo os teus olhos com raiva por te ter destruido os sonhos de viagens em volta do mundo, a casa na floresta onde querias ter vivido, os concertos a que querias ir e não podes porque os filhos são pequenos e a vida não deixa.
Eduardo, há alturas em que te odeio por não me poder zangar contigo até que os meus olhos me saiam das órbitas, por não te poder trair sequer, por não ter a fuga do divórcio e da cura que vem da raiva por não querer nunca mais olhar para a tua cara.
O que eu te quero dizer, o que tenho para te dizer, e que mesmo que eu não queira, não tenho outra opção senão amar-te e respeitar-te, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.

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